Quarto da Melissa

Nathan andava pelos corredores, distraído com o som em seus fones de ouvido brancos conectados ao seu Iphone. Ao se deparar com uma nova porta a qual não lembrava de estar ali, bateu nela algumas vezes, dando de ombros, à espera de uma resposta.

- E aí...- foram suas primeiras palavras, sem lá tanta empolgação.- Eu vi que você é nova na escola. Surpresa, porque eu também sou.

Nathan se encostou desleixadamente na porta já aberta e a seguir enfiou as mãos dentro do casaco vermelho que vestia.

- Resumindo: só tentando socializar, conhecer as pessoas daqui. Eu não faço muito isso, na verdade eu odeio fazer, mas enfim... espera, que cheiro é esse?

Ele tapou o rosto com as mãos e espirrou com força.

- Argh, tem cheiro de bola de pelo. Sou alérgico a gatos ou qualquer coisa que solte muito pelo, huh. Não me diga que você é uma daquelas que se transformam em bichos, heh?

- Um animal que se transforma? Não é um humano que se transforma em animal? Interessante.- ele disse, sem se preocupar com seu tom debochado de voz.- Não está, não é uma alergia lá tão grande. Relaxa aí, peluda.

No fim, ele acabou estendendo a mão para ela em um cumprimento educado.

- E eu sou Nathaniel Prescott, mas o meu sobrenome só é famoso fora desse lugar. Bem, você pode me chamar só de Nathan. Seu nome é legal, eu gosto de morangos.

Com o passar do tempo, apenas duas coisas aumentaram dentre os dois pilares daquele instituto...a desconfiança e a tensão.
Com o passar dos dias, nem mesmo Erik sabia se podia realmente confiar em Charles para estar do seu lado no seu novo plano que era moldado pelas escondidas junto a alguns dos jovens. Porém, ainda era um professor e amigo do telepata, e isso ainda lhe dava algumas tarefas a serem cumpridas.
Uma dessas tarefas era controlar o fluxo de alunos pelos dormitórios, mesmo isso sendo algo que lhe dava liberdade para pregar sobre seus ideias...bem, não deixava de ser chato. A segunda era "Olhos abertos com os novatos!".
É, Xavier havia especificado que assim como o vírus da gripe, que sofre mutação e se torna cada vez mais forte, os mutantes assim também eram. Logo, a cada geração era provável que jovens com poderes ainda não pensados nem mesmo pelo telepata poderiam surgir...bem, parece que desta vez Erik havia que arcar com as duas tarefas ao mesmo.
As vozes se tornavam cada vez mais audíveis vindas do dormitório feminino, isso não seria anormal se não fosse pela voz audivelmente máscula que de lá também vinha.
Com uma ficha nas mãos e um andar um tanto mais apressado que o comum, Erik se aproximava cada vez mais da figura dos dois alunos.

-É...*urrhg*~ Ele limpou a garganta.~ Me desculpem interromper mas acho que o novo diretor de vocês gostariam que eu lhes desse as boas vindas.~ Um sorriso sutil e Erik olhou para ambos.~ Vocês sabem, é protocolo e...~ Os olhos azuis quase iguais aos do garoto o olharam de cima a baixo.~...o que você está fazendo no dormitório feminino?

- Saquei...- soltou a mão dela depois daquele cumprimento, voltando a enfiar as mãos nos bolsos da jaqueta vermelha.- Cultura? P*ta merda, você deve estar mais perdida do que eu. Onde fica esse templo que você veio, Melissa?

Ao notar a aproximação de outro que até então não tinha muito a ver na conversa e observá-lo interagir a respeito dela, Nathan semicerrou os olhos azuis diante da pergunta que lhe foi dirigida. Vindo de alguém como ele, aquilo nem de longe era coisa normal - muito menos boa. E, até mesmo para quem não o conhecia, não seria difícil notar o brilho ameaçador sem motivos que surgira nas íris do adolescente.  


- Quem diabos é você pra me perguntar isso? Até onde eu sei nem disse seu nome. É fácil ser o "cara com uma ficha".- ele cruzou os braços, fazendo um hmpf que lhe ergueu o queixo e empinou o nariz da forma mais mimada possível. Mais um par de olhos azuis subiram e desceram, imitando o movimento de Erik anteriormente, quase como se aquilo tivesse sido uma ofensa ao pudor para Nathan. Após repetir o ato, parando as íris exatamente sobre as do homem a frente, o garoto falou secamente:- Não é da sua conta.

Aquele leve sorriso forçado sumiu do rosto de Erik como poeira na frente de uma grande ventilador.
suas mãos apertaram aquela ficha como se segurassem algum tipo de vontade, de impulso que tentava manter escondida.
Uma linha extremamente reta tomou o lugar de seus lábios...porém, quando aquela figura nova e aparentemente mal educada pôs um fim em seus dizeres,  Erik apenas deu sorriso acompanhado de um franzir de sobrancelhas como se dissesse "Isso é sério?"
"O cara com uma ficha?"
A língua de Magnus se pôs a molhar seus lábios se preparando para iniciar um leve sermão quando novamente aquela voz displicente se mostrou presente aos ouvidos do professor.
Aquele tipo de voz, dita daquele jeito, eram como ordens ditadas, era muita arrogância para um simples jovem.
Mas Erik preferiu seguir os conselhos de Charles, afinal nunca se sabe com quem realmente está falando e isso também valeria para o garoto de olhos azuis.

- Eu realmente acho que deveria ouvir sua...~ Com um olhar um tanto sério, Erik olhou para a garota ao lado e pode perceber não era exatamente uma garota~...amiga.~ Coçando os cabelos acima da testa, Erik sussurrou quase inaudivelmente.~ Onde diabos eu vim me meter...Pois bem, infelizmente...~ Aquila palavra teve muita ênfase.~ Você tem razão.~ Os olhos se voltaram para Nathan.~ Não disse meu nome, Me chamo Erik Lehnsherr. Sou o professor de filosofia e por enquanto...monitor dos corredores. Xavier não gostaria que eu não fosse formal...assim como não gostaria que alguns alunos não fossem educados.

Erik posicionou a ficha diante de si e se pôs a passar algumas folhas das muitas que lá haviam para poder identificar os dois novatos mas logo a abaixou novamente.

- Certo, isso seria muito chato dessa forma então...já que estamos aqui, por que não me dizem os seus dons? Não estão no instituto a toa, não é mesmo?

- Melly. Legal.- ele deu de ombros.- Você veio do Japão pra cá? E eu achando que a minha cidade era perdida o suficiente.

Ele fez um barulho com a boca como quem morde o interior da bochecha e depois suga ar.

- Gentil? Eu os pago para serem gentil comigo. - "professor". Aquela palavra não parecia causar em Nathan o impacto que deveria causar para um aluno. Era como se todos fossem do mesmo saco diante dele.

Tornando a encarar Erik, ele não se demonstrou assustado pela expressão nada simpática do professor. Na verdade, o Prescott poderia dizer que via isso todos os dias - e não era só no próprio espelho.

- Meu pai conversou bastante com o tal Xavier, ele deveria ter especificado que eu preciso de um tempo pra me ajustar. Conhecer o lugar antes de assistir às aulas e principalmente não ser incomodado antes disso.- seu tom de voz rosnou a ironia, mas não era como se ele estivesse fazendo isso de propósito. Era quase como se fosse inevitável o agudo sonoro em sua voz, que se mostrava vez ou outra durante sua fala.- Talvez eu devesse mandar meu pai falar com ele de novo, ou até com você, huh?

Se aquilo foi uma ameaça, então a hipótese dele ser corajoso demais era errada. Talvez fosse apenas precipitado demais. Ou talvez ele sequer soubesse a diferença entre os dois.
Nathan se desencostou da porta, franzindo as sobrancelhas douradas.

- Ninguém me diz o que fazer. Além do mais, eu nem mesmo sei especificar os meus "dons".- ele fez aspas com os dedos.- Às vezes não passam de aberrações.

-Nathan calma, não seja tão agressivo assim-Melissa segura ele o afastando um pouco do Erik-Vamos, tente se controlar quer um chá de camomila pra ajudar? Uma massagem ou algo assim pra se acalmar? -Ela falou sendo um pouco grossa com ele já que estava cansada de ver a briga entre os dois-


Antes que ela pudesse falar alguma coisa teve flash back de um grupo de aldeões tacando pedras nela e falando:"Seu monstro não chegue perto da gente" "você nem deveria existir" "preferia que você nunca tivesse vindo para essa vila" "Você trouxe a desgraça com você, seu monstro".

-Me desculpe Nathan -ela falou com um olhar sem vida e com medo quase que tremendo-